Marajó não é cenário: população critica uso político da região por figuras externas
Em artigo, Idinor Ferreira de Oliveira condena a apropriação do sofrimento marajoara como estratégia de visibilidade. Vereadora de outro estado é acusada de repetir táticas midiáticas que ignoram a realidade local.

O arquipélago do Marajó, no Pará, segue sendo alvo de um processo recorrente e preocupante: sua realidade complexa e suas dificuldades históricas vêm sendo exploradas como material para narrativas sensacionalistas e projetos de autopromoção política. O sofrimento do povo marajoara é transformado em espetáculo — um recurso visual e emocional que alimenta redes sociais, discursos comoventes e ambições eleitorais.
Recentemente, esse tipo de abordagem foi encarnado por Ana Carolina Oliveira, vereadora do estado de São Paulo — não da região, nem de municípios paraenses. Ela esteve em Portel, uma das cidades marajoaras, como parte de seu projeto “Silêncio que grita”, que se apresenta como um esforço de escuta e denúncia de violações contra crianças. No entanto, sua passagem não resultou em propostas concretas, nem articulou ações com gestores e lideranças locais.
Ao contrário, a visita remete a estratégias semelhantes às adotadas anteriormente pela ex-ministra Damares Alves, que, durante sua gestão federal, usou declarações alarmantes — muitas vezes descontextualizadas — sobre a infância no Marajó para atrair atenção, sem que isso tenha resultado em políticas públicas consistentes.
O padrão se repete: discursos com forte apelo emocional, imagens sensíveis sem contextualização, e nenhuma continuidade. Em comum, o uso simbólico do Marajó como vitrine para construção de capital político, muitas vezes por pessoas que desconhecem as especificidades da região.
A ausência de vínculos de Ana Carolina com o território paraense, associada à falta de medidas práticas, reforça a percepção de que sua atuação tem mais a ver com a projeção pessoal do que com o compromisso com a transformação social. Rumores já indicam uma possível candidatura a cargos federais em 2026 pelo partido Podemos.
Enquanto isso, cidades como Portel, Breves, Curralinho e Soure seguem lutando diariamente por melhorias reais — por meio de políticas públicas, programas sociais e iniciativas de base comunitária. Essas ações, silenciosas e efetivas, raramente viram manchete, mas são as que de fato produzem mudanças.
“Os marajoaras não precisam de mártires de Instagram”, afirma Idinor. “Precisam de agentes públicos que estejam presentes, que conheçam a realidade e que construam soluções com a população, e não discursos sobre ela.”
A crítica é clara: o Marajó não é cenário de campanha, nem depósito de tragédias. É território de vida, cultura e resistência. E, por isso, merece respeito — não exploração.